terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Relicário

Uma das principais características que nos diferencia dos animais, de uma forma geral, é a nossa capacidade de darmos significado as coisas. O significado é uma atribuição de sentido, uma relação estabelecida entre duas partes (seja essa relação afetiva, racional ou tradicional). E são esses significados que fazem a vida ser mais compreensível, mais sentida e mais prazerosa.

Entender esses significados pode nos levar a profundas conclusões. Um grande sociólogo alemão, chamado Max Weber, fundamentou todo o seu trabalho sociológico buscando compreender qual o significado que cada indivíduo atribuía a sua ação. E entendendo o significado das ações, podia-se mergulhar nas razões dos grandes caminhos da humanidade. Ele fez isso para entender o capitalismo, as grandes religiões, o processo de evolução da ciência e muito mais.

No entanto, sabendo da importância que os significados das coisas têm para a nossa existência precisamos carregar algumas lembranças que nos remeta aos significados atribuídos a algumas coisas, eventos e experiências que fazem sentido para nós.

Das dezoito caixas de papelão que estou levando na mudança, uma delas é o que eu poderia chamar de um relicário, que seria uma caixa de relíquias; ou seja, um conjunto de objetos de grande valor afetivo, histórico ou emotivo. Nela eu guardo algumas fotos, cadernetas escolares, antigas coleções, alguns diários de anos especiais, algumas cartas recebidas de amigos e parentes etc.

O relicário é portanto a nossa caixa de significados. Esse relicário pode assumir duas condições: material ou sentimental. Na condição material temos como exemplo a minha caixa de lembranças e na condição sentimental seria uma caixa de ideias onde ajuntamos os sentimentos, sensações, gostos, cheiros, percepções etc que nos fazem ter esperança e viver a vida com mais fluidez. O que essas duas condições têm em comum? Que ambos “objetos” que guardamos nela mostram e revelam alguns significados que atribuímos a nossa vida.

E esses “objetos” guardados e acumulados não precisam ter necessariamente valor financeiro, nem ter alguma utilidade na vida prática, nem mesmo fazer sentido para outras pessoas. Eles precisam simplesmente ter importância para nós.

Por fim, gostaria de compartilhar uma experiência. Alguns dias atrás ouvi uma música, que apreciava muito na minha infância e que havia um tempão que não a escutava. E aquela música e sua coreografia me remeteram a uma época muito gostosa, onde o tempo não pesava tanto e nem os acontecimentos eram tão densos. Essa música, com toda a certeza faz parte do meu relicário sentimental e tê-la em minha memória faz com que a vida de hoje seja mais leve e suave.

Os “objetos” do relicário podem dizer muito de você, fazendo com que você seja compreendido através deles. Mas o mais importante é que esses “objetos” te ajudem a viver melhor, tendo esperança no amanhã, coragem existencial e colocando cores a sua disposição.

Em breve vou colocar algumas peças do meu relicário nesse blog.

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