sexta-feira, 10 de abril de 2015

Uma visão pouco convencional sobre as grandes cidades.


Geoffrey West

O físico britânico Geoffrey West começou a sabatina no Roda Viva, na segunda-feira (19), falando sobre sua teoria sobre o crescimento das cidades. “Uma das coisas que, com os estudos que eu faço, pode ser comprovada, é que, sistematicamente, quanto maior a cidade, mais eficiente ela é. De uma maneira sistemática, se você olhar cidades do Estados Unidos ou Brasil, enquanto elas crescem, ficam mais sistemáticas. Quanto maior a cidade, maior a média de salários, maior número de rodovias. Mas pode ser ruim também: quanto maior a cidade, mais crimes, poluição e doenças”, explica.
Cidades e seus legados
Para West, as cidades foram feitas com o objetivo de facilitar as relações de todos que habitam uma determinada sociedade. “A cidade na maneira que conhecemos hoje, foi uma das maiores invenções do ser humano. Um espaço para interagir com as outras pessoas e aprender”.
Questionado sobre o legado de cidades como São Paulo, principalmente em relação a práticas ruins como a escravidão, West não acha que só aqui esse tipo de problema influencie. “Cada cidade tem sua própria historia e legado, aspectos como escravidão e outros. Os Estados Unidos também têm um grande histórico de escravidão. Quem tem que ditar o futuro de grandes cidades, independentemente de legados ruins, são os prefeitos. Eles devem facilitar a integração das pessoas nestas grandes metrópoles”, salienta.
Redes
West compara o crescimento exponencial das cidades com o das redes sociais. “Se a cidade dobra de tamanho, dentro de um sistema urbano, você economiza 15% de infraestrutura e de renda per capita toda vez que isso ocorre. Toda a vida é sustentada por redes, parecemos diferentes, mas somos versões em larga escala de nós mesmos”, prossegue, dizendo que, “com a universalidade das redes sociais, em nível médio, todos temos coisas em comum, todos temos família, trabalhos, estilos de vidas parecidos.”
Valendo-se, ainda, da comparação entre redes e cidades, West fala sobre as fórmulas usadas em seus estudos. “Um dos desafios que temos de lidar ao compreender as cidades é a matemática que permeia as redes sociais. Entendendo isso, como se associa e entrega a rede e sua infraestrutura, entende-se os estudos. Há uma teoria matemática pra tudo”, diz.
Espaço de interação
O físico británico explica o que deve ser feito para que cidades brasileiras funcionem de acordo com a sua teoria. “O papel de um prefeito é providenciar cultura, prover mecanismos que facilitem a interação, deixando as pessoas livres para levarem suas vidas de forma criativa e significativa. É preciso haver metodologias e incentivos que forneçam espaços e trabalho tanto quanto aumente a interação”, conclui.
Na sabatina, West comenta também a necessidade que os seres humanos encontraram, desde o início da civilização, de se juntarem uns aos outros. “Quando eu e você fazemos coisas juntos, podemos fazer melhor, criar tempos livres que nos permitem meditar, contemplar, criar ideias e apreciar a beleza. Essa é a ideia de viver em conjunto, que trouxe a ideia de cidades”, completa.
Antes do final da entrevista, West ainda arrisca uma previsão sobre a população mundial daqui a alguns anos. “A cada dois meses, há uma São Paulo de pessoas aparecendo no mundo. O crescimento não para e, até 2050, deve haver mais de 10 bilhões de pessoas vivendo no planeta”, conclui.