quinta-feira, 25 de março de 2010

Moral e Ética: Dois Conceitos de Uma Mesma Realidade


A confusão que acontece entre as palavras Moral e Ética existem há muitos séculos. A própria etimologia destes termos gera confusão, sendo que Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.

Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois temas, sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior a própria sociedade. A Moral tem caráter obrigatório.

Já a palavra Ética, Motta (1984) defini como um “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com Sócrates, pois se exigi maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.

Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um traidor? Em situações como esta, os indivíduos se deparam com a necessidade de organizar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normas são aceitas como obrigatórias, e desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Porém o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas, não sendo, então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento. E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim Ética é uma espécie de legislação do comportamento Moral das pessoas. Mas a função fundamental é a mesma de toda teoria: explorar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade.

A Moral, afinal, não é somente um ato individual, pois as pessoas são, por natureza, seres sociais, assim percebe-se que a Moral também é um empreendimento social. E esses atos morais, quando realizados por livre participação da pessoa, são aceitas, voluntariamente.

Pois assim determina Vasquez (1998) ao citar Moral como um “sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.

Enfim, Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. Ambos significam "respeitar e venerar a vida". O homem, com seu livre arbítrio, vai formando seu meio ambiente ou o destruindo, ou ele apóia a natureza e suas criaturas ou ele subjuga tudo que pode dominar, e assim ele mesmo se torna no bem ou no mal deste planeta. Deste modo, Ética e a Moral se formam numa mesma realidade.

Autoria: THIAGO FIRMINO SILVANO - Acadêmico do Curso de Direito da UNISUL

REFERÊNCIA

1 SILVA, José Cândido da; SUNG, Jung Mo. Conversando sobre ética e sociedade. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

2 CAMARGO, Marculino. Fundamentos da ética geral e profissional. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

3 VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

4 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à Ciência do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1972.

5 VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 2004.

6 MOTTA, Nair de Souza. Ética e vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural, 1984.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Músicas para ajudar num dia difícil

DIAS MELHORES - JOTA QUEST


Vivemos esperando
Dias melhores
Dias de paz, dias a mais
Dias que não deixaremos
Para trás
Oh! Oh! Oh! Oh!...

Vivemos esperando
O dia em que
Seremos melhores
(Melhores! Melhores!)
Melhores no amor
Melhores na dor
Melhores em tudo
Oh! Oh! Oh!...

Vivemos esperando
O dia em que seremos
Para sempre
Vivemos esperando
Oh! Oh! Oh!
Dias melhores prá sempre
Dias melhores prá sempre
(Prá sempre!)...

Vivemos esperando
Dias melhores
(Melhores! Melhores!)
Dias de paz
Dias a mais
Dias que não deixaremos
Para trás
Oh! Oh! Oh!...

Vivemos esperando
O dia em que
Seremos melhores
(Melhores! Melhores!)
Melhores no amor
Melhores na dor
Melhores em tudo
Oh! Oh! Oh!...

Vivemos esperando
O dia em que seremos
Para sempre
Vivemos esperando
Oh! Oh! Oh!...

Dias melhores
Prá sempre...(4x)

Uh! Uh! Uh! Oh! Oh!
Prá sempre!
Sempre! Sempre! Sempre!...

TAPECEIRO - STÊNIO MARCIO



Tapeceiro, grande artista,
Vai fazendo seu trabalho
Incansável, paciente no seu tear

Tapeceiro, não se engana
Sabe o fim desde o começo,
Traça voltas, mil desvios sem perder o fio

Minha vida é obra de tapeçaria,
É tecida de cores alegres e vivas,
Que fazem contraste no meio das cores
Nubladas e tristes
Se você olha do avesso,
Nem imagina o desfecho
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem

Quando se vê pelo lado certo,
Muda-se logo a expressão do rosto,
Obra de arte para Honra e Glória do Tapeceiro

Minha vida é obra de tapeçaria,
É tecida de cores alegres e vivas,
Que fazem contraste no meio das cores
Nubladas e tristes
Se você olha do avesso,
Nem imagina o desfecho
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem

Quando se vê pelo lado certo,
Todas as cores da minha vida
Dignificam a Jesus Cristo, o Tapeceiro

domingo, 21 de março de 2010

Salomão 3 - Alma, tempo e eternidade.


Assim como a alma humana é diversa, entendo que o tempo também o é. Quão variados sentimentos e virtudes podem ser força propulsora no interior do ser humano, como diversos e múltiplos são os caminhos que o tempo pode desenhar na tela da história.

Olhando para disposição da vida vejo que existe tempo para tudo e acredito que o Criador tenha feito a alma humana semelhante ao tempo para que os dois se tornassem um e muitos em uma só vez.

Observei que a variedade do tempo e da alma revela que tudo tem sua vez, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de entristecer e tempo de saltar de alegria; tempo de desarranjar e tempo de organizar; tempo de abraçar e tempo de afastar-se; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de abrir mão; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.

Como a alma e o tempo se encontram para tornar os dois possíveis. Acredito que o Criador tenha plantado a eternidade no coração do homem, para fazer a própria humanidade possível.

A humanidade se define pela infinitude de possibilidades, no entanto, as obras do seu início e fim não lhes são reveladas. Mas o Criador incorporou na mente do homem a ideia de eternidade justamente para que esse busque as coisas sublimes, maiores que ele mesmo, que transcendem a sua própria existência. Pela necessidade visceral de se eternizar os homens são capazes de amar, de cultivar amizades, de fazer política e escrever poesias. E ao fazer isso eles se tornam mais parecidos com o Criador, que tem a eternidade em quintessência.

sábado, 13 de março de 2010

C.S Lewis - apóstolo dos céticos



Clive Staples Lewis, conhecido como C. S. Lewis, (Belfast, 29 de Novembro de 1898 – Oxford, 22 de Novembro de 1963) foi um autor e escritor irlandês que se salientou pelo seu trabalho acadêmico sobre literatura medieval e pela apologética cristã que desenvolveu através de várias obras e palestras.

Nascimento, infância e adolescência

Nascido na Irlanda, Clive Staples Lewis cresceu no meio dos livros da seleta biblioteca particular de sua família, criando nesta atmosfera cultural um mundo todo próprio, dominado por sua fértil imaginação e criatividade. Os seus pais (Albert J. Lewis e Florence A. H. Lewis) eram cristãos anglicanos. Quando Clive tinha três anos decidiu adotar o nome de "Jack", nome pelo qual ficaria conhecido na família e no círculo de amigos próximos.

Quando adolescentes, Lewis e seu irmão Warren (três anos mais velho que ele) passavam quase todo o seu tempo dentro de casa dedicando-se a leitura de livros clássicos, e distantes da realidade materialista e tecnológica do século XX. Aos 10 anos, a morte prematura de sua mãe fez com que ele ainda mais se isolasse da vida comum dos garotos de sua idade, buscando refúgio no campo de suas histórias e fantasias infantis.

Na sua adolescência encontrou a obra do compositor Richard Wagner e começou a se interessar pela mitologia nórdica.
[editar] Educação

Sua educação foi iniciada por um tutor particular, e mais tarde no Malvern College na Inglaterra. Em 1916, aos 18 anos de idade, foi admitido no University College, em Oxford. Seus estudos foram interrompidos pelo serviço militar na Primeira Guerra Mundial. Em 1918, retornou a Oxford.

Durante a Primeira Guerra Mundial ele conheceu um outro soldado irlandês chamado Paddy Moore, com quem travou uma amizade. Os dois fizeram uma promessa: se algum deles falecesse durante o conflito, o outro tomaria conta da família respectiva. Moore faleceu em 1918 e Lewis cumpriu com o seu compromisso. Após o final da guerra, Lewis procurou a mãe de Paddy Moore, a senhora Janie Moore, com quem estabeleceu uma profunda amizade até à morte desta em 1951. Lewis viveu em várias casas arrendadas com Moore e a sua filha Maureen, facto que desagradou o seu pai. Por esta altura Clive já tinha abandonado o Cristianismo no qual fora educado na sua infância.

Ensinou no Magdalen College, de 1925 a 1954 e deste ano até sua morte em Oxford. Foi professor de Literatura Medieval e Renascentista na Universidade de Cambridge. Tornou-se altamente respeitado neste campo de estudo, tanto como professor como escritor. Seu livro A Alegoria do Amor: um Estudo da Tradição Medieval, publicado em 1936, é considerado por muitos seu mais importante trabalho, pelo qual ganhou o prêmio Gollansz Memorial de literatura. Em Oxford conheceu vários escritores famosos, como Tolkien, T. S. Eliot, G. K. Chesterton que o ajudaram a voltar à fé cristã, e Owen Barfield.
[editar] Vida e obra

Lewis voltou à fé cristã no início da década de 1930, dedicou-se a defendê-la e permaneceu na Igreja Anglicana (o conhecido téologo evangélico J. I. Packer foi clérigo na igreja onde C. S. Lewis freqüentava). Tem sido chamado o porta-voz não oficial do Cristianismo, que ele soube divulgar de forma magistral, através de seus livros e palestras, onde ele apresenta sua crença na verdade literal das Escrituras Sagradas, sobre o Filho de Deus, sua vida, morte e ressurreição. Isto foi certamente verdade durante sua vida, mas de forma ainda mais evidente após a sua morte. Foi chamado até de "Elvis Presley evangélico" devido à sua popularidade,

Tornou-se popular durante a II Guerra Mundial, por suas palestras transmitidas pelo rádio e por seus escritos, sendo chamado de "apóstolo dos céticos", especialmente nos Estados Unidos. Suas palestras tocavam profundamente seus ouvintes da rádio BBC de Londres. Na sua última palestra "O Novo Homem", Lewis disse: "Olhe para você, e você vai encontrar em toda a longa jornada de sua vida apenas ódio, solidão, desespero, ruína e decadência. Mas olhe para Cristo e você vai encontrá-Lo, e com Ele tudo o mais que você necessita"

Lewis notabilizou-se por uma inteligência privilegiada, e por um estilo espirituoso e imaginativo. "O Regresso do Peregrino", publicado em 1933, "O Problema do Sofrimento" (1940), "Milagres" (1947), e "Cartas de um diabo ao seu aprendiz" (1942), são provavelmente suas obras mais conhecidas. Escreveu também uma trilogia de ficção científico-religiosa, conhecida como a "Trilogia Espacial": "Longe do Planeta Silencioso" (1938), "Perelandra" (1943), e "That Hideous Strength" (1945). Para crianças, ele escreveu uma série de fábulas, começando com "O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa" em 1950. Sua autobiografia, "Surpreendido pela Alegria", foi publicada em 1955.

C. S. Lewis morreu em 22 de Novembro de 1963, no mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy foi assassinado e em que morre Aldous Huxley. A coincidência serviu como pano de fundo para o livro O Diálogo – Um debate além da morte entre John F. Kennedy, C. S. Lewis e Aldous Huxley, de Peter Kreeft, onde os três personagens, representando o teísmo ocidental (Lewis), o humanismo ocidental (Kennedy) e o panteísmo oriental (Huxley) discutem sobre religião e cristianismo.

A guerra fria em torno do aquecimento global

Uma verdadeira disputa ideológica

Por Carlos Castilho

O que parecia inicialmente um bate boca entre eco-chatos e adeptos do progresso economico ganha agora cada vez mais ares de uma batalha onde os argumentos de alguma forma lembram os da falecida guerra fria.

Os que acreditam no aquecimento global propõem medidas coletivas visando o bem comum, enquanto os críticos alegam que isto vai contra a liberdade individual e passam a incluir o combate a iniciativas conservacionistas no rol dos inimigos públicos.

A colocação do tema aquecimento global na agenda contemporânea é uma vitória inegável dos ambientalistas que há anos vem batendo nesta tecla. Inicialmente a oposição era de caráter moral e econômico, mas agora tornou-se claramente política e cada vez mais ideológica.

É uma batalha para tentar fazer o que os anglo saxões chamam de framing the issues, ou seja enquadrar os temas. Enquadrar significa aqui ver o tema a partir de um determinado ângulo ou ponto de vista. Em lugar de ver o todo, leva-se o público a ver uma parte do tema, aquela mais favorável a quem promove a ação.

Você pode ver a campanha contra o aquecimento global como um esforço para conservar a vida na terra ou como uma iniciativa de limitar a liberdade individual a partir de uma ação coletiva. E é claro, isto tudo está enfocado a partir de uma opção ideológica.

É uma disputa por corações e mentes, por simpatias e adesões, onde a imprensa ocupa um lugar chave porque ela ainda é uma dos principais ferramentas para framing the issues. O enquadramento é hoje o ponto crítico no jogo do poder mundial porque é nele que se define como as pessoas pensarão ou discutirão os temas da agenda pública.

Quando o trabalho é bem feito no campo do enfoque dos temas, a força bruta torna-se supérflua, o que nos tempos atuais é uma grande vantagem dada a crescente antipatia pelas soluções de força e pelo alto custo financeiros e humano das mesmas.

É por esta razão que comunicação e poder são hoje quase sinônimos e o público precisa ver esta equação em termos bem objetivos. O problema é que os grandes conglomerados da indústria da comunicação são parte interessada nesta guerra fria entre ambientalistas (no sentido mais genérico) e conservadores (idem).

A estratégia de alguns conglomerados é apropriar-se do tema aquecimento para depois tentar higienizá-lo de influencias coletivistas enquanto outros já partem decididamente para o ataque. E o principal foco são as falhas e erros cometidos por cientistas vinculados à campanha contra o aquecimento.

Falhas inevitáveis porque se trata de um tema onde ainda falta muita pesquisa mas que, quando são levadas para a arena do debate público pela imprensa, tornam-se armas letais na mão de quem consegue inseri-las no seu enfoque.

Estou mencionando tudo isto porque a confusão em torno do problema deve aumentar e o público tende a ficar desorientado diante do bombardeio informativo. O novo nisto tudo é que ao contrário do que acontecia até agora, os jornais já não tem mais o monopólio do enfoque e do framing. Agora o cidadão é quem escolhe como ver um problema.

A guerra da informação está agora em nossos corações e mentes.

P.S. Se você deseja mais informações sobre a polêmica em torno do aquecimento global pode consultar o boletim Mudanças Climáticas, editado pela ANDI:

http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/

Texto original retirado do Observatório da Imprensa:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={30AD7D7A-0E00-43A0-B768-E6F70D7F55A7}

terça-feira, 9 de março de 2010

Diversidade Cultural



por Antonio A. Dayrell de Lima

A sociedade brasileira reflete, por sua própria formação histórica, o pluralismo. Somos nacionalmente, hoje, uma síntese intercultural, não apenas um mosaico de culturas. Nossa singularidade consiste em aceitar - um pouco mais do que outros - a diversidade e transformá-la em algo mais universal. Este é o verdadeiro perfil brasileiro… Sabemos, portanto, por experiência própria, que o diálogo entre culturas supera - no final - o relativismo cultural crasso e enriquece valores universais.

Passado o período colonial, ficamos mais permeáveis à troca de idéias e ao influxo de conteúdos culturais que vêm do exterior, fora da esfera luso-africana. Também aplaudimos, por razões políticas óbvias, o livre fluxo de idéias: é um passaporte para a democracia e o reconhecemos como uma garantia do respeito aos direitos humanos.

O mundo, infelizmente, não apresenta historicamente um jogo simples, equilibrado ou mesmo limpo na matéria: as disproporções em termos da escala ou da resistência das culturas, assim como da difusão das mensagens e dos produtos culturais, são com efeito muito grandes… A globalização, neste aspecto, apresenta uma preocupante tendência à homogeinização cultural, quando não à hegemonia pura e simples em certos setores culturais.

Mas ‘diversificar é preciso’: a diversidade cultural é, em um certo sentido, o próprio reflexo da necessidade abrangente da múltipla diversidade de vidas na Natureza, a fim de que essa possa como um todo renovar-se e sobreviver. A cultura é a ‘natureza’ do homem. A diversidade cultural pode ser vista, por conseguinte, como a nossa ‘biodiversidade’ - aquela que deveríamos preservar, se não quisermos estiolar em um mundo globalizado que seria desprovido dos conteúdos, valores, símbolos e identidades que nos dizem intimamente respeito.

Hoje vivemos em um mundo que estimula a automia do econômico - o que implica privilegiar considerações comerciais em vez de outros aspectos societais (como a emergência internacional da AIDS), enquanto, por sinal, promessas não cumpridas em favor do livre-comércio se empilham, já que nunca se contempla a produção dos países em desenvolvimento…

O fato é que, obviamente, as produções de natureza cultural não são meros serviços remuneráveis, oferecidos à sociedade por pessoas talentosas ou de sucesso. A cultura não apenas agrada, esclarece ou diverte com produtos que podem ser internacionalmente comercializados, como também provém e faz parte da própria trama das sociedades - inclusive ajudando-as a sustentar-se através de atributos que pertencem ao âmago de cada um, isto tanto nas sociedades modernas quanto nas tradicionais. Os produtos culturais no sentido mais lato são a verdadeira teia que mantém as sociedades coerentes e vivas: deixar perecer, sutil ou grosseiramente, a produção cultural endógena de um povo, substitutindo-a por outra totalmente estranha, por melhor e mais cintilante que possa ser, é empobrecer este povo em sua própria identidade.

O comércio cultural não pode ser apenas o resultado de cálculos para obter vantagens comparativas que predominariam, seguindo um frio racionalismo econômico. Produtos e serviços culturais não podem ser tratados unicamente como mercadorias. Será que o quadro das disciplinas de comércio internacional é amplo o suficiente para comportar todas as complexidades do assunto?

Para usar uma analogia muito próxima à esfera nacional, envolvendo o mesmo conceito - o respeito pela identidade do outro - há, efetivamente, a necessidade de uma ação afirmativa internacional quanto à proteção da diversidade cultural. Poderíamos, em toda sinceridade, retirar a autonomia de qualquer governo na implementação de políticas públicas destinadas a proteger setores desavantajados do cenário cultural, quando confrontados somente pelas regras - ou o caos - do mercado global? A resposta é claramente não.

Acreditamos sinceramente que um enfoque meramente mercadológico, o do livre-comercio global, não seja o único parâmetro que deveríamos usar no tocante à questão da circulação de bens e serviços culturais.

O Brasil defendeu, como oportuna, na 32ª Conferência Geral da UNESCO - recém-realizada em Paris, com a presença do Ministro da Cultura e artista Gilberto Gil — a negociação, a curto prazo, de uma Convenção sobre a Proteção da Diversidade Cultural.

Esta idéia foi esmagadora e explicitamente defendida também por mais de 100 países, desenvolvidos e em desenvolvimento. Um pequeno grupo de países (6 a 8) - encabeçados pelos Estados Unidos - prefeririam que a matéria fosse exclusivamente tratada na OMC. Mas, após árduos entendimentos, foi dado à Organização, por consenso, um mandato de negociação.

É importante que a sociedade brasileira se intere dos debates internacionais que ora se iniciam formalmente - para que possa ser estruturada e formulada, de forma transparente, uma posição do Governo brasileiro afinada com todos os interesses nacionais em jogo.

*Antonio A. Dayrell de Lima é embaixador brasileiro e delegado permanente do Brasil junto à UNESCO


Texto disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/2003/10/15/diversidade-cultural-por-antonio-a-dayrell-de-lima/ Acesso em 09/03/2010

domingo, 7 de março de 2010

Astronauta

Conta-se a história de três amigos. Que desde pequeno cresceram juntos no mesmo bairro freqüentaram a mesma escola e participaram das mesmas brincadeiras. O primeiro se chamava João, como era um cara descolado e tinha toda a moral com a galera, passou a ser chamado pelo apelido de “John” por ser mais despojado e combinar mais com seu estilo. O segundo se chamava Alexandre, diferentemente de John, não era tão legal e atraente como o amigo; e gostaria de ser chamado de “Alex”, mas não colou. E o terceiro se chamava Samuel, que por ser sempre atencioso e sensível a todo mundo, foi chamado carinhosamente de “Samuca”.

Os três garotos cresceram e entraram na adolescência, vivendo todos os desafios e as virtudes da idade. Novos amigos, novos valores, novos conceitos e experiências para além da barra da saia da mãe. Os três se tornaram filhos do seu tempo, respiravam os ares de sua época, dançavam conforme a música. E a música que tocava tinha uma harmonia bem humana. Quase todas as filosofias desse tempo foram elaboradas para convencer-lhes de que o bem do homem encontrava-se nesta terra.

Até que chegou a juventude, aumentaram as responsabilidades e os significados da vida se tornaram mais intensos.

E John, por sua vez sempre atraente e agradável, conquistava todos a sua volta. E era a descrição perfeita da ideia de que a vida era agora, e que devia curtir ao máximo o que essa vida poderia dar, pois só teria essa oportunidade. Então buscava ganhar o máximo de dinheiro possível, conquistar todas as mulheres disponíveis e juntar todos os amigos em sua volta. No entanto, nunca tinha paz, queria sempre mais e quando se encontrava sozinho, sentia angustia profunda.
Samuca por ter a alma bonita e dar sempre importância a sentimentos eternos obtinha o respeito e admiração de muitos. No final da adolescência, tinha tido uma experiência com o Eterno, tinha percebido que existia um desejo dentro do seu coração, que nada nesse mundo poderia satisfazer. Assim, ele percebeu que não tinha sido feito para esse mundo e que todas as alegrias e satisfações de seu tempo eram apenas eco e sombra das alegrias futuras.

Alexandre, por sua indiferença e dureza, tinha apenas a simpatia de seus nobres amigos que lhe entendiam e não o deixavam sozinho. Ele ficava sempre divido entre a personalidade imediatista de John e o caráter constante de Samuca. Talvez fosse o mais infeliz, pois, como John, tinha toda a sua esperança nessa vida, mas sabia também que não poderia ser saciado plenamente aqui. Samuca havia lhe apresentado outro mundo, mas com o tempo parou de pensar no eterno, se tornando o mais incompetente neste mundo.

A grande diferente entre os três é que apenas Samuca havia compreendido o verdadeiro significado da vida, apenas ele tinha conseguido perceber que sua vida no presente, era a anti-sala da Eternidade. Assim, ele vivia como se a gravidade, os problemas e as satisfações desse mundo não o pudessem segurar. Ele compreendeu o que essa canção abaixo diz e podia se considerar como um astronauta.


Os meus pés estão no chão
E a cabeça nas alturas
Nos meus tímpanos ainda soa Tua voz
Inesquecível como o verbo
Que não dá pra se apagar
Foi escrito aqui por dentro pra se eternizar
E não vai sair, e nem acabar
E a gravidade disso aqui não vai me segurar

Os meus pés estão no chão
E a cabeça lá no espaço
Sou satélite na órbita do Teu amor
E eu me sinto um astronauta flutuando na galáxia
Giro no Teu universo eu vivo acima do céu
E não vou sair, e nem me acabar
E a gravidade disso aqui não vai me segurar

Não importa se meus pés...
Se a cabeça é nas alturas
Não importa se o meu chão
Se eu vivo acima

Os meus pés estão na Terra
E a cabeça lá nas nuvens
No deserto o Teu cuidado paira sobre mim
Mesmo sem um telescópio, a capturar a tua luz
Despejá-la nos meus olhos
Plantá-la dentro de mim
E não vai sair, e nem acabar
E a gravidade disso aqui não vai me segurar

sábado, 6 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher


Gostaria de deixar a minha pequena homenagem a todas as mulheres, pela sua força em vencer as dificuldades, pelo seu amor em vencer o ódio e pelo seu empenho em vencer as injustiças.

"Em vez de convidar as mulheres a aceitar a solidão parece-me preferível pedir-lhes que nos curem,
que aqueçam este mundo glacial da objetividade, que deem alma a essa sociedade mecanizada" Paul Tornier

Parabéns a todas as mulheres pelo seu dia

quarta-feira, 3 de março de 2010

Os cristãos e a cultura

A ‘cultura’ de uma sociedade é um conjunto de práticas, atitudes, valores e crenças que estão baseados no entendimento comum das ‘grandes questões’ – de onde surgiu a vida, qual é seu significado, quem somos nós e no que é importante gastarmos nosso tempo durante os anos que nos foram dados. Ninguém consegue viver sem pensar em algumas respostas para essas perguntas, e cada tipo de resposta ajuda a formar a cultura:

1. a forma como tratamos o mundo material,
2. a forma como relacionamos o indivíduo com o grupo e com a família,
3. a forma como grupos e classes se relacionam,
4. a forma como tratamos o sexo, o dinheiro e o poder,
5. a forma como tomamos decisões e decidimos prioridades, e a forma como tratamos a morte, o tempo, a arte, o governo, e o espaço físico.

Hoje em dia, muitos movimentos, grupos políticos, redes de ativistas sociais, fundações, elites, especialistas, escritores, artistas e líderes religiosos estão todos trabalhando intencionalmente em favor de mudanças culturais – e trabalhando em direções extremamente diferentes e muitas vezes, contraditórias. Cristãos, obviamente, adorariam ver sua sociedade refletir mais e mais a justiça do Pai, o amor sacrificial do Filho e o poder vivificante do Espírito. Como os cristãos deveriam ‘relacionar Cristo e a cultura’ para que isso aconteça?

Historicamente, cristãos têm adotado três abordagens clássicas que ainda estão em uso. Podemos chamá-las de abordagens conversionista, política e separatista.

1. Conversionista – De um lado, temos um grupo que acredita que o caminho a seguir para mudar a cultura é mudar o máximo possível de indivíduos através da conversão pessoal. Assim, supostamente, a cultura seria mudada automaticamente.
2. Política – Do outro lado, houve muitos crentes ao longo dos últimos séculos que pretendiam usar do poder político para estabelecer leis que eram diretamente baseadas na teologia cristã.
3. Separatista – A terceira abordagem rejeita qualquer idéia de cristãos tentando influenciar a cultura. Ela afirma que nós deveríamos refletir nossos valores cristãos dentro de nossas igrejas, mas não deveríamos tentar influenciar a sociedade em qualquer aspecto particular.

Em um texto tão breve, não há como esperar que se faça justiça a essas três abordagens. Cada uma delas está passível de tantas críticas das outras duas que nós podemos concluir que não há um caminho utópico para criar uma sociedade cristã. Você pode levantar o ponto de que nunca houve uma sociedade cristã (mesmo quando algumas se diziam ser) e nunca haverá.

Entretanto, os cristãos não devem se satisfazer com conversões individuais ou enclaves políticos quando olham e analisam o centro da narrativa da Bíblia:

1. Deus criou um mundo de paz e vida;
2. O mundo caiu em um estado de injustiça e sofrimento;
3. Deus decidiu redimir esse mundo através da obra de seu Filho e a criação de uma “nova humanidade”; até que:
4. Eventualmente, o mundo será renovado e restaurado para ser da forma como ele foi criado e como queremos que ele seja.

Resumindo, o propósito da redenção não é ajudar indivíduos a fugir desse mundo. É a vinda do reino de Deus para renovar o mundo. O propósito de Deus não é somente salvar indivíduos, mas criar um novo mundo baseado na justiça, na paz e no amor, ao invés de poder, conflitos e egoísmo. Se Deus é tão dedicado ao ponto de sofrer e morrer, cristãos certamente deveriam também buscar uma sociedade baseada do amor e na paz de Deus.

Como devemos fazer isso, então? Aqui na Redeemer, nós aprendemos alguma coisa de cada uma das abordagens citadas acima, e mesmo assim temos seguido um caminho diferente. Nem sonhamos em afirmar que temos a resposta definitiva, mas nossa forma de relacionar cristãos com a cultura é, assim cremos, extremamente promissora (apesar de seus resultados até aqui serem apenas ‘embrionários’). A seguir, um rascunho:

1. Cristãos devem viver plenamente na cidade. A cidade é um intenso caldeirão para formação da cultura. Tendências culturais tendem a surgir na cidade e se espalhar pelo resto da sociedade. Assim, pessoas que vivem em grandes centros urbanos (trabalhando em suas instituições, arrumando empregos artísticos, financeiros, acadêmicos ou na mídia e fornecendo serviços) tendem a ter mais impacto sobre como as coisas são feitas em uma cultura. Se uma maior porcentagem das pessoas que habitam em cidades fosse cristã, os valores de Cristo teriam muito mais influência na cultura.

2. Cristãos deveriam ser uma contracultura dinâmica na cidade. Não vai ser o suficiente para os cristãos apenar morar na cidade, individualmente. Eles devem viver como um tipo particular de comunidade.

A Bíblia nos conta que a história do mundo é a um “conto de duas cidades”. A “cidade do homem” é construída sobre o princípio da auto-exaltação individual (Gênesis 11.1-4: “Assim nosso nome será famoso”). O que Deus deseja é diferente. “Seu santo monte, belo e majestoso, é a alegria de toda a terra” (Salmo 48.2). Em outras palavras, a sociedade urbana que Deus quer é baseada no serviço ao invés do egoísmo e em trazer alegria ao mundo, não apenas aos seus indivíduos. Provavelmente Jesus tinha o Salmo 48.2 em mente quando disse aos seus discípulos que eles eram “uma cidade construída sobre um monte” cuja vida e as ações mostraram a glória de Deus ao mundo (Mateus 5.14-17). Assim somos nós! Nós cristãos somos chamados para ser uma cidade alternativa dentro de qualquer outra cidade terrena, uma cultura humana alternativa dentro que qualquer outra cultura humana, para mostrar como sexo, dinheiro e poder podem ser usados de formas não-destrutivas; para mostrar como classes e raças que não se dão bem longe de Cristo podem se dar bem nele; e para mostrar como é possível produzir arte que traz esperança ao invés de desespero e excitação.

3. Cristãos deveriam ser uma comunidade radicalmente comprometida com o bem da cidade como um todo. É insuficiente para os cristãos formar uma cultura que apenas ‘contradiz’ os valores da cidade. Nós devemos então nos voltar, como todos os recursos de nossa fé e nossa vida, para servir sacrificialmente pelo bem de toda a cidade, especialmente os mais pobres. Cristãos trabalham pela paz, segurança, justiça e prosperidade de seus próximos, amando-os em palavra e em ação, quer acreditem eles nas mesmas coisas que nós, quer não. Em Jeremias 29.7, os judeus foram chamados não só a viver na cidade, mas a amá-la e trabalhar por seu ‘shalom’ – seu crescimento econômico, social e espiritual. Cristãos são, sim, cidadãos da cidade celestial de Deus. Mas os cidadãos da cidade de Deus devem ser os melhores possíveis cidadãos de sua cidade terrena. Eles seguem os passos dAquele que deu sua vida por seus inimigos.

Por fim, cristãos não serão atraentes dentro de sua cultura através de jogos de poder e coerção, mas através de serviço sacrificial em prol das pessoas, sem se importar com o que elas crêem. Não vivemos aqui simplesmente para aumentar a prosperidade de nossa tribo ou grupo, mas para o bem de todas as pessoas da cidade.

4. Cristãos deveriam ser um povo que integra sua fé com seu trabalho. Existe um quarto e crucial componente para nosso plano de relacionar os cristãos com a cultura. Como dissemos antes, todo trabalho procede do que se acredita em relação às ‘grande questões’ sobre o significado da vida, o que os seres humanos são e quais são as coisas mais importantes da vida. Nós chamamos as respostas para essas questões de ‘cosmovisão’. Muitos campos profissionais hoje em dia estão dominados por cosmovisões muitos diferentes da cristã.

Entretanto, quando muitos cristãos adentram um campo vocacional, eles a) isolam sua fé de seu trabalho e simplesmente trabalham como todos ao seu redor ou b) simplesmente arremessam versículos bíblicos para as pessoas, esperando difundir sua fé. Nós simplesmente não sabemos como pensar sobre as implicações da visão cristã da realidade para formar tudo o que fazemos em nossas profissões. Não sabemos como persuadir pessoas ao mostrar a elas as raízes que o trabalho de qualquer pessoa tem em uma cosmovisão baseada na fé. Não sabemos como atrair as pessoas ao cristianismo ao mostramos os recursos obtidos em Cristo para resolver problemas culturais e satisfazer expectativas culturais.

A igreja cristã tem apenas começado a pensar nessa área. Quando se trata de cultura, muitos cristãos não conhecem nada além de uma fé privativa ou militante e beligerante. Aqui na Redeemer, nós queremos ser parte da renascença do engajamento cultural cristão em Nova Iorque.

Traduzido por Filipe Schulz
Texto extraído do Blog iPródigo:
http://iprodigo.com/traducoes/cristaos-e-a-cultura.html

segunda-feira, 1 de março de 2010

Uma experiência visual incrível

Guernica de Pablo Picasso - 1937 em 3D


Guernica: a arte e o terror

A Guernica de Picasso

Estéticamente quem melhor captou esse sentimento foi Pablo Picasso. Vivendo em Paris desde o início do século, já era uma celebridade quando o Governo da Frente Popular o procurou para que fizesse algumas telas para arrecadar fundos para a República. A violência e a indignação que causou o bombardeio fez com que ele se concentrasse por 5 meses numa grande tela, quase um mural (350,5 x 782,3). Sua primeira aparição deu-se numa Exposição Internacional sobre a Vida Moderna em Paris, no dia 4 de junho de 1937. O público virou-lhe as costas.

Não era algo belo de ser visto. Picasso, para retratar o clima sombrio que envolvia o desastre, utilizou-se da cor negra, do cinza e do branco. Como nunca a máxima de Giulio Argan segundo a qual a "arte não é efusão lírica, é problema" tenha sido tão explicitada, como na composição de Picasso. O painel encontra-se dominado no alto pela luz de um olho-lâmpada - símbolo da mortífera tecnologia - seguida de duas figuras de animais. No centro um cavalo apavorado, em disparada, representa as forças irracionais da destruição. A direita dele, impassível, um perfil picassiano de um touro imóvel. Talvez seja símbolo da Espanha em guerra civil, impotente perante a destruição que a envolvia. Logo a baixo do touro, encontramos uma mãe com o filho morto no colo. Ela clama aos céus por uma intervenção. Trata-se da moderna pietá de Picasso. Uma figura masculina, geometricamente esquartejada, domina as partes inferiores. A direita, uma mulher, com seios expostos e grávida, voltada para a luz, implora pela vida, enquanto outra, incinerada, ergue inutilmente os braços para o vazio, enquanto uma casa arde em chamas. Naquele caos a tecnologia aparece esmagando a vida.

Uma obra-prima do século XX

Foi uma das grandes premonições histórico-estéticas do século. Dois anos depois teria o início o martírio das populações de Varsóvia, de Londres, de Berlim, de Hamburgo, de Leningrado, de Dresden, de Hiroxima e de Nagasaki, que padeceriam, devido aos bombardeamentos em massa, dos mesmos tormentos das imagens dilaceradas do quadro de Picasso. Exatamente por não ter nenhum signo específico de agressão, nenhuma suástica ou distintivo franquista ou falangista, a composição transcendeu os acontecimentos da infausta Guerra Civil espanhola, tornando-se um manifesto estético dos horrores provocados por uma tecnologia a serviço da desumanização. Picasso pintou a obra-prima do século, onde se misturam as contradições da nossa época: progresso e violência, catástrofe e prosperidade.

Texto retirado do endereço: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/guernica_eta.htm