sábado, 30 de janeiro de 2010

Na vida, como no futebol, se você não busca o jogo, você não participa dele.


O caso de Keirrison, O K9

O mundo ilusório e ganancioso da bola fez mais uma vítima: o jovem Keirrison, ou nomeado pela torcida de K9. Há exatamente um ano atrás, esse jovem saía do Coritiba no Paraná e se transferia para o Palmeiras em São Paulo. Nos primeiros jogos pelo novo clube, sustentou uma média alta de gols. Era festejado e celebrado pela torcida.

No entanto, parece-me que ele foi seduzido pelo sucesso e a arrogância lhe subiu a cabeça. Ele começou a achar que o time fazia e acontecia por causa dele. Ele acreditou que era especial e que merecia um tratamento diferenciado no clube. Mas como alerta o texto de Provérbios 16:18, a soberba precede à ruína; e o orgulho, à queda.

O começo arrasador foi minguando com o tempo, os gols foram rareando, e após a eliminação do time no torneio sul-americano, o K9 foi apontado pela torcida e até por colegas de equipe como o grande vilão. Ele era descrito como um “jogador sem raça, sem vontade, que tira o pé de dividida”.

Contudo, o cenário do fracasso não estava completo. Diante do mal estar no Palmeiras, não havia mais clima para Keirrison continuar no clube, e uma proposta do super Barcelona, de 14 milhões de euros, caiu do céu. K9 se foi. E por achar que ele ainda não estava maduro, o Barça o emprestou para o Benfica. Era vestir a camisa dos “Encarnados”, fazer “golos” e voltar com moral ao Camp Nou.

Mas a passagem de Keirrison pelo Benfica se transformou no mico do ano no futebol português. Encostado, ele se vê obrigado a encontrar um novo clube nas próximas horas, antes do fechamento da janela de transferências, se não quiser passar mais seis meses vendo futebol só do banco de reservas. Ou pior: das tribunas.

Até agora, Keirrison participou de apenas cinco jogos, só um como titular, totalizando 199 minutos em campo. Nenhum golzinho. Nos últimos dias, o técnico Jorge Jesus determinou que ele treinasse longe do grupo. Está tão triste que poderia “contaminar” os outros jogadores. “Ele está arrasado”, disse Marcos Malaquias, empresário de Keirrison, ao Yahoo! Esportes.

Ninguém mais no time agüenta o estilo “me passa a bola que eu chuto para o gol”. K9 parece não ter entendido que, tanto na vida, quanto no futebol, se você não busca o jogo, você não participa dele.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Ser bom

C.S. Lewis

Nem mesmo o melhor de todos os cristãos age por suas próprias forças. Só o que ele faz é conservar ou proteger uma vida que ele jamais teria adquirido por seus próprios esforços. E isso tem conseqüências práticas. Enquanto a vida natural está no nosso corpo, ela fará o que puder para restaurá-lo. Se ele sofre um corte, saberá se curar até certo ponto, de uma forma que nenhum corpo morto saberia fazer. Semelhantemente, um cristão não é uma pessoa que jamais erra, e sim alguém que é capaz de se arrepender, reerguer-se e começar novamente depois de cada queda. A vida de Cristo está dentro dele, reparando-o o tempo todo, capacitando-o a repetir (até certo ponto) o tipo de morte voluntária que Cristo mesmo tomou sobre si.

Eis a razão por que o cristão se encontra em circunstâncias diferentes de outras pessoas que tentam ser boas. Elas acham que sendo boas podem agradar a Deus (se é que existe algum); ou, se elas acham que não existe Deus algum, esperam ao menos merecer a aprovação das pessoas boas. Porém, o cristão atribui toda boa obra que faz à vida de Cristo em seu interior. Ele não tem a ilusão de que Deus irá nos amar porque somos bons, mas que Deus nos fará bons porque nos ama; da mesma forma que o telhado de uma estufa não atrai os raios do sol porque é brilhante, mas se torna brilhante porque o sol brilha nele.

Excerto de Cristianismo Puro e Simples

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Lições sobre o terremoto no Haiti

Logo começou o ano e a humanidade foi surpreendida com uma catástrofe de dimensões incalculáveis, nomeadamente o terremoto no Haiti. A ONU declarou ser a maior tragédia dos seus 60 anos de história. Cenas de medo, destruição e desespero chegaram a nós por TV´s e pela Internet. E aquilo que parecia ser tão distante, nos tocou e mobilizou de alguma maneira, fazendo-nos refletir e expressar algumas opiniões.

Os mais céticos, se sensibilizaram por sentimentos de solidariedade humanitária, ou em alguns poucos a indiferença; e para muitos crédulos, especificamente os que se declaram cristãos protestantes, houve duas reações que nos cabe refletir: a primeira é o questionamento de como Deus permitiu isso a um país tão pobre, e a segunda é que o povo haitiano estava colhendo o terror de Deus por se envolverem em bruxaria e espíritos malignos.

Quanto à primeira questão imagino se Deus invertesse a demanda e perguntasse: onde eu estava que deixaram esse país se enterrar na miséria? Onde eu estava que exploraram esse país por anos como colônia? Onde eu estava quando deixaram líderes locais trucidarem uma população em nome da ganância e egoísmo? Onde eu estava que não levaram o tão desejado desenvolvimento para os países da América Central?

A tragédia do Haiti é mais social do que física. O Haiti não ruiu apenas com as fúrias das placas tectônicas, mas com a fraqueza das estruturas das casas e a falta de recurso para construí-las. No Japão os terremotos com maior intensidade trazem menos danos. Durante os 300 anos de história o país foi assolado pela escravidão e pela dependência. Por longos 300 anos líderes sanguinários assumiram o poder levando a população à barbárie.

A segunda questão talvez seja a mais mesquinha, pois parecem que vivem o cristianismo às avessas. Logo que acontece uma tragédia com outros que professam credos diferentes, já vem o juízo afirmando: viu estão obtendo o que merecem; ou então: Deus está fazendo justiça aos que não o seguem. A insensibilidade chegou a tal ponto que um pastor televisivo norte-americano exclamou que o terremoto foi resultado de um pacto com diabo que o país teria feito para adquirir sua independência da França.

Mas o trecho bíblico de Tiago 2:13 faz um grande alerta para os julgadores de plantão: será exercido juízo sem misericórdia para quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo.

No contexto da tragédia, tais resoluções ajuizadas de cristãos parecem ser resultado de uma relação com um Deus rancoroso, cheio de ódio e vingança, que está pronto para mostrar a sua força quando suas pequenas criaturas precisam de cuidado e carinho.

Dessa discussão podemos tirar pelo menos duas lições, 1) que o terremoto social de três séculos no Haiti foi muito pior do que o "terremoto de Deus" no dia 05 de Janeiro e 2) que como cristãos protestantes melhor é estendermos a mão, ou ajoelharmos em oração em favor do povo haitiano, do que apontarmos o dedo de acusador.

sábado, 23 de janeiro de 2010

A CRUZ
por Luiz Felipe Pondé

ANOS ATRÁS, em Paris, o historiador Jacques Le Goff me falava da sua preocupação com o destino da cultura ocidental. Para ele, o Ocidente poderia perder sua identidade como resultado de sua própria produção cultural.

Outros intelectuais também partilhariam de suas inquietações. Entre eles, o antropólogo Lévi-Strauss, morto semana passada. Le Goff se inquietava porque parte das agonias da cultura ocidental teria sido fruto dos “achados” da história e da antropologia e seus frutos, as filosofias e políticas relativistas do século 20.

O relativismo existe desde os sofistas gregos e tem em Protágoras seu ícone máximo de então. Mas o que é “relativismo”? Em Protágoras é: “O homem é a medida de todas as coisas” (versão curta). Isto quer dizer que tudo é criação humana: a moral, a religião, enfim, as verdades de cada cultura. Sentados num bar, diríamos: “Cada um é cada um”.

A história contemporânea acentuou essa versão das coisas quando afirmou que as épocas têm suas concepções de mundo específicas e que não podemos dizer que uma época seja melhor do que a outra. A antropologia, por sua vez (e aqui entra Lévi-Strauss), afirmou que as culturas não podem ser comparadas umas com as outras sem cometermos o pecado de não percebermos que cada cultura seria um sistema fechado em si mesmo, onde um comportamento só poderia ser julgado pelos valores morais da própria cultura.

Por exemplo, matar bebês pode ser um horror moral acima do equador e uma obrigação sublime abaixo do equador. É comum remeter a Lévi-Strauss a descoberta da “dignidade intrínseca” de cada cultura, e que não se deve julgar uma cultura usando valores de outras.

Não há dúvida que essa atitude é essencial para a antropologia. O problema começaria quando pensamos no impacto do relativismo no próprio Ocidente que o inventou. Dito de outra forma: o relativismo se transformou numa militância política e moral apenas no Ocidente. Enquanto os ocidentais estariam sofrendo de uma “indigestão” devido à assimilação do relativismo, as “outras” culturas, estudadas pelos próprios ocidentais, permaneceriam no seu repouso não contaminado pelo relativismo. Trocando em miúdos: muçulmanos podem permanecer acreditando em seu paraíso com virgens, índios em seus espíritos da floresta, enfim, apenas os ocidentais deveriam “relativizar” seu Deus e suas “verdades”.

Sendo os cientistas sociais, os filósofos, os professores e os jornalistas maciçamente ocidentais, seriam as crianças deles que deveriam ser educadas duvidando da validade universal de seu mundo. Aí entra a inquietação de Le Goff: o Ocidente poderia se dissolver como identidade à medida que relativizaria a si mesmo, enquanto as “outras” culturas seriam poupadas da crítica relativista, porque indiferentes à angústia relativista ocidental e, também, porque contam com a simpatia do Ocidente nessa indiferença e na defesa de sua “dignidade intrínseca”.

A verdade é que os homens são sempre contraditórios e, ainda que eu não saiba se Lévi-Strauss de fato partilhava da mesma angustia de Le Goff, algumas pessoas afirmam que ele admirava seu avô Rabino e que julgava os racionalistas ateus uns chatos e preferiria aqueles que acreditam em Deus. Pode ser boato, mas isso faria dele um homem mais interessante do que alguns que engoliram o relativismo assim como quem come pão e vai ao circo.

Um exemplo da “indigestão” causada pelo relativismo no Ocidente é o recente caso dos crucifixos nas escolas italianas. Aparentemente uma mãe se queixou de que o filho se sentia “desrespeitado” porque, não sendo cristão, tinha que frequentar uma sala de aula com uma cruz na parede. A partir daí, teriam decidido pela proibição do crucifixo nas escolas.

Essa decisão é ridícula porque a cruz é um símbolo, seja eu cristão ou não, das raízes do próprio Ocidente, naquilo que ele mais preza: amor ao próximo, generosidade e justiça, enfim, um Deus que morre de amor. Nós contemporâneos somos ignorantes de um modo gritante acerca do cristianismo, confundindo-o com alguns de seus momentos mais infelizes e cruéis (toda cultura é infeliz e cruel de alguma forma). Essa proibição cospe na cara de 2.000 anos de história de uma grande parte da humanidade, e os ignorantes que a realizaram deveriam ser obrigados a pedir desculpa aos cristãos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Visões ofuscadas de Deus

C.S. Lewis

Tratando-se de conhecer a Deus, a iniciativa veio da parte dele. Se Ele não se mostra, não há nada que você possa fazer para encontrá-lo. E, de fato, ele se revela muito mais a certas pessoas do que a outras, não porque tenha favoritos, mas porque é impossível que ele se mostre a um ser humana cuja mente e caráter estão em péssimas condições. É como a luz do sol que, embora não tenha preferências, não consegue refletir-se num espelho sujo de forma tão clara quanto num espelho limpo.

Você pode colocar isso de outra forma dizendo que, enquanto em outras ciências os instrumentos são coisas externas a você mesmo (como microscópios e telescópios), o instrumento por meio do qual você vê a Deus é seu próprio ser. E se esse “ser” não for mantido limpo e luminoso, sua visão de Deus ficará obscurecida – à semelhança da lua vista por um telescópio sujo. Eis porque pessoas horríveis têm religiões horríveis: eles sempre olharam para Deus com lentes sujas.

Excerto de Cristianismo Puro e Simples

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010


Proporcionalmente, rico deve pagar mais imposto para desigualdade cair

Sarah Fernandes

Para que o Brasil continue reduzindo a desigualdade de renda é preciso mudar o formato da arrecadação de impostos e garantir que, proporcionalmente, as pessoas de baixa renda paguem menos tributos do que as de renda elevada. A sugestão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que lançou o estudo “Pobreza, Desigualdade e Políticas Públicas” na última terça-feira (12/1), em São Paulo (SP).

O relatório mostra que o Brasil foi um dos poucos países que, entre 1981 e 2005, conseguiu reduzir a taxa de pobreza e a desigualdade de renda simultaneamente. Porém, o estudo destaca que para que a trajetória se mantenha é preciso reverter o formato da arrecadação de impostos.

As pessoas que ganhavam até dois salários mínimos em 2003 pagavam 48,9% do seu rendimento em impostos, enquanto aquelas que ganhavam mais de 30 salários gastavam 26,3% da sua renda em taxas, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), usada no estudo.

“O Brasil faz uma política distributiva, na qual os pobres pagam mais e o governo devolve esse dinheiro em ações sociais. Para continuar reduzindo a desigualdade é necessária uma política redistributiva em que a arrecadação seja maior no grupo dos mais ricos”, avaliou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.

Além de mudar o formato da arrecadação, o estudo alerta que reduzir a desigualdade depende da manutenção da taxa de crescimento econômico elevada e da criação de um órgão que monitore e avalie os programas sociais. “Não há um coordenador com metas globais para a área social como existe para a economia”, alertou Pochmann.

Sem pobreza extrema em 2016

Se forem mantidos os indicadores socioeconômicos de 2003 a 2008, o Brasil deve zerar o número de miseráveis em 2016 e reduzir o número de pessoas de baixa renda para índices similares aos de países desenvolvidos, aponta o estudo.

“O Brasil pode praticamente superar o problema da pobreza extrema, assim como alcançar uma taxa nacional de pobreza absoluta de 4%, o que significa sua erradicação”, segundo o relatório. Pobreza extrema é a condição em que uma família vive com até R$ 127,50 mensais e pobreza absoluta com até R$ 255, segundo o Ipea.

Para o Ipea, parte significativa dos avanços alcançados pelo país no enfrentamento da pobreza e da desigualdade está relacionada à Constituição de 1988 que garantiu acesso da população às políticas sociais. Além disso, o instituto destaca que a estabilidade monetária, a maior expansão econômica e o reforço de políticas sociais foram fundamentais no combate a desigualdade.

A matéria original se encontra no endereço: http://aprendiz.uol.com.br/content/criprorupr.mmp