segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Caixas de Papelão

Hoje estou empacotando as coisas para me mudar de Belo Horizonte para Manhuaçu ainda essa semana.

Mas gostaria de voltar um pouco no tempo, e lembrar quando cheguei aqui na capital vindo da minha cidade natal no interior de Minas. Foi no dia de 11 de março de 2002, quando vim de carona com um amigo. Além da carona ganhei a indicação para conseguir um trabalho. A irmã do motorista tinha um elegante estabelecimento de festas na orla da lagoa da Pampulha.

Ao chegar ao estabelecimento no dia 15 de março conversei um logo tempo com o casal proprietário e me apresentaram todas as repartições da casa, todas as dependências do salão de festas, todos os jardins, muros e etc. Meu primeiro trabalho em Belo Horizonte seria faxineiro durante os dias da semana e segurança de festa nos finais de semana; estava contratado.

Naquele lugar me acomodei num quartinho, que cabia inconveniente uma cama, um cabideiro para roupas e uma pequena televisão de 4,5 polegadas que se sustentava em cima de uma máquina de costura que também deveria dividir comigo aquele espaço e também mais duas caixas de papelão.

Acertada a minha contratação, liguei para minha mãe, orgulhoso pelo êxito, e pedi para que ela me mandasse “tudo o que eu tinha”. Uma semana depois o amigo da carona trouxe de Manhuaçu “tudo o que eu tinha”. E esse tudo cabia apenas em duas caixas de papelão. Naquele momento fui afetado por uma tristeza tão grande em observar que durante os meus 20 anos decorridos “tudo o que eu tinha” cabia em duas caixas de papelão, naquele instante chorei compulsivamente. E o choro ganhou tons de soluços quando abri uma das caixas e dentro tinha uma carinhosa carta da minha mãe, me motivando e dizendo que me amava muito e acreditava em mim.

Decorrido sete anos desse episódio, hoje arrumo novamente a mudança em caixas de papelão, que até agora contabilizaram 18 unidades. Muitas delas com roupas, outras tantas (em grande número) com livros e duas delas com lembranças (vou refletir sobre lembranças em outro post). E durante esse tempo eu aprendi que o mais importante não são as coisas que você tem, representada, nesse caso, pelo conteúdo das caixas, nem a quantidade delas. Mas sim, os amigos que se têm, os sentimentos vividos, as histórias acumuladas, os caminhos percorridos e a plena alegria de viver tendo a esperança sempre de que o amanhã será sempre melhor.

E a mesma mulher que despedia com saudades o seu rebento a sete anos atrás, hoje aguarda ansiosa a volta do seu filho dileto.



Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida. Provérbios 4:23

domingo, 29 de novembro de 2009

COMBATER A POBREZA EM PAÍSES EMERGENTES

Lições do Brasil, China e Índia

Traduzido por Eliéser Ribeiro* da revista The Economist


Na recente Conferência sobre Alimentação em Roma, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestiu um par de luvas de boxe e foi rotulado de "Hunger Free" e acenou para as câmeras. Elas eram seu prêmio - se este é o termo correto, para o sucesso do Brasil na cobertura de uma tabela classificatória elaborada pela ACTION AID, uma organização beneficente britânica, que mediu os países que mais fizeram para reduzir a fome**. A ocasião foi uma atração, é claro, mas tinha um propósito mais sério: que foi o de mostrar que até mesmo os lugares mais pobres podem atenuar a pobreza e a fome. (O Brasil não está nessa categoria, mas o Gana, Vietnã e do Malawi, que ficaram em terceiro, quarto e quinto estão).

A lista da ACTION AID foi inevitavelmente influenciada por uma variedade de coisas que as ONG’s amam: programas de proteção social, garantias legais e constitucionais contra a pobreza e a rejeição do livre mercado. No entanto, uma avaliação mais rigorosa da redução da pobreza no Brasil, China e Índia foi feita por Martin Ravallion, (Diretor de Desenvolvimento do Banco Mundial, Grupo de Investigação***). Ele sugere que a fome não é simplesmente algo que o crescimento econômico poderá cuidar. O diretor mostrou que o desempenho dos grandes países varia muito mais do que o seu crescimento. E ele também diz a respeito do desempenho do Brasil como sendo excepcional.

Entre os países, Brasil, China e Índia, que contém a metade de toda a população pobre do mundo, são os que mais compartilharam as cifras dos que escaparam da pobreza. Em 1981, 84% da população da China estava abaixo da linha de pobreza de U$ 1,25 por dia (em preços de 2005); em 2005 eles compartilharam apenas 16% da quantidade total de pobres. Este valor correspondeu a uma taxa proporcional de 6,6% anuais na redução da pobreza, a diferença entre as taxas de crescimento do número de pobres e da população total.

Ninguém fez tanto quanto a China. A proporção daqueles em situação de pobreza no Brasil caiu pela metade de 17% para 8%, uma redução anual de 3,2%. A Índia, em comparação aos três países foi a que teve menores mudanças, mas ainda sim foi muito bem, cortando a parte de baixo da linha de pobreza de 60% para 42% entre 1981 e 2005. Isto implica uma redução anual de 1,5% ao ano, embora haja problemas com as estatísticas da Índia; utilizando diferentes valores de consumo gera uma redução anual de 3%, comparável ao do Brasil.

Como observou o Sr. Ravallion, estes números não espelham as taxas de crescimento. O Brasil reduziu a pobreza, mais do que a Índia, apesar do crescimento muito menor, pouco mais de 1% ao ano em 1993-2005, em comparação com 5% da Índia. Se você calcular a taxa de redução da pobreza para cada unidade de crescimento do PIB por pessoa, o Brasil foi ainda melhor do que a China: a proporção é de 4,3 para o Brasil, 0,8 e 0,4 para a China e para a Índia (0,8 se você usar os valores do consumo ajustado). Por unidade de crescimento, o Brasil reduziu sua taxa de pobreza proporcionalmente cinco vezes mais do que a China ou a Índia.

Mas como fazer essa redução ser tão grande? A principal explicação tem a ver com a redução da desigualdade. Esta (medida pelo índice de GINI) caiu acentuadamente no Brasil desde 1993, enquanto se elevou na China e aumentou consideravelmente na Índia. A grande desigualdade atenua o efeito do crescimento na redução da pobreza.

As políticas de governo desempenharam um grande papel na redução da desigualdade. O principal programa de transferência no Brasil, chamado Bolsa Família, oferece ajuda a 11 milhões de famílias, ou 60% de todos aqueles do décimo mais pobre da população. Em contraste, a segurança social na China ainda é fornecida em grande parte através do sistema empresarial (ou seja, das companhias), de modo que tende a ignorar quem não tem trabalho. E intervenções governamentais na Índia são extremamente cruéis e injustas. As pessoas no quinto mais pobre são as menos propensas a ter qualquer tipo de cartão social (a chave para a assistência pública), enquanto o quinto mais rico são os mais prováveis.

O Diretor Ravallion conclui com algumas lições úteis. Em todos os três países, a estabilidade econômica fez uma grande diferença para melhorar os índices de pobreza. A China foi a que mais reduziu a pobreza, mas fez melhor no início, quando a agricultura teve um crescimento mais rápido. Como o crescimento deslocou para as cidades e a fabricação, a desigualdade aumentou. Eles poderiam ter feito ainda melhor com o estilo "progressivo" das políticas brasileiras. A Índia teve tanto crescimento quanto políticas sociais, ainda não fizeram melhor porque as suas políticas de fato pouco ajudaram aos mais pobres. Com seu sistema de castas e o péssimo estado das escolas, a Índia pode ser uma sociedade mais desigual do que os números sugerem. Ambos os países asiáticos poderiam aprender algumas lições com o Brasil. Mas o Brasil, por sua vez, não será capaz de igualar o recorde da China em reduzir o número de pessoas pobres, sem um maior crescimento.

* Responsabilizo por qualquer problema ou erro na tradução. Tendo dúvidas confira o artigo original em:
http://www.economist.com/world/international/displayStory.cfm?story_id=14979330&source=hptextfeature

** “Who’s really fighting hunger?” www.actionaid.org

*** A comparative perspective on poverty reduction in Brazil, China and India”. By Martin Ravallion. Policy Research Working Paper 5080. econ.worldbank.org.

sábado, 28 de novembro de 2009

SOBRE O TEMPO...

Um dos assuntos mais recorrentes e que causa muita perplexidade nos dias atuais é a maneira como lidamos com o tempo. A cada dia tem-se a impressão de que tudo passa mais rápido. E a falta de tempo é uma reclamação constante. Durante toda história, sociedades diversas tiveram noções diferentes do tempo. Isso quer dizer que a maneira como se relaciona com o passado, o presente e o futuro é específica de cada época. Dessa forma, o tempo, sendo um patrimônio que nunca recuperamos, nem sempre foi escasso como parece ser nos dias atuais.

No desenvolvimento da sociedade, passamos de uma concepção do tempo que era dominado pela natureza, em seguida, de um tempo dominado pelos seres humanos; e hoje vivemos em condições em que somos dominados pelo tempo. Essas transformações estão vinculadas às mudanças realizadas através do trabalho humano, entendido como atividade produtiva. Por meio dessa atividade, a sociedade sujeitou e moldou a natureza. Contudo, o trabalho foi quantificado através do salário e medido por meio do cronômetro e, assim, passou a ser controlado, em busca de uma maior produtividade. Portanto, é produtivo quem consegue fazer mais em menos tempo: esse é o modo com se passa a ser dominado pelo tempo, tendo a necessidade de viver em função de relógios, calendários e agendas para produzir cada vez mais.

Os jovens de hoje têm ainda uma maneira peculiar de relacionar com o tempo, pois para nós a vida parece ser mais dinâmica e diversificada. A imensa velocidade com que comunicamos e temos acesso à informação – devido à internet, celulares, etc –, e a velocidade com que vemos produtos e tecnologias surgindo e sendo ultrapassadas nos deixou “mal acostumados”: queremos que tudo aconteça para ontem. Temos pressa em arrumar um emprego, urgência em adquirir um bem, precipitação em arrumar uma namorada e, assim, essa avidez se estende para todas as decisões e relacionamentos mantidos pelos jovens. Nisso, corremos o grande risco de vivermos de maneira superficial, além de tomarmos decisões erradas. Atualmente o que mais importa é a vida agora, o momento. Percebe-se um apego ao tempo presente e às recompensas de curto prazo, sem se dar a devida importância ao cultivo de sentimentos, valores e sonhos que dão o sentido à vida e trazem resultados permanentes.

Diante da atual situação, como se relacionar com esse elemento chamado tempo? As respostas mais apressadas indicariam o dever de organizar a vida para melhor gerenciá-la, pois todos nós temos as mesmas 24 horas diárias. Uma resposta mais profunda, todavia, indicaria que devemos sempre considerar o que é mais importante, não o mais urgente. Ainda assim, tais respostas não resolveriam a essência da questão, que envolveria desde nossas atividades mais simples até nossas concepções de mundo.

No salmo 90, considerado o mais antigo da Bíblia, existem algumas reflexões fundamentais para compreendermos melhor a nossa relação com o tempo. Esse salmo escrito por Moisés discorre sobre a eternidade de Deus e a transitoriedade do homem. Deus está acima dos tempos, Ele é Eterno e apenas Ele é atemporal e ilimitado, enquanto nós seres humanos, ao contrário, somos apegados ao agora, com a vida passageira de características finitas e limitadas. Somente a justa medida do tempo dará o justo conhecimento dos caminhos da vida. Dessa forma, somente o relacionamento com Aquele que está acima do tempo pode orientar qual a melhor medida desse, para uma boa compreensão da natureza da vida.

Diante de tantas decisões a tomar, de caminhos a seguir, de planos a realizar, em que devemos aplicar o nosso tempo? Moisés pede a direção de Deus, dizendo: ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio (SL 90:12). Acredito que contar os dias não seja apenas enumerá-los num calendário e amontoá-los em anos, pelo contrário, é aprender com a experiência, compreender o tempo de forma plena, gozar a vida de maneira correta e cultivar um coração que saiba tomar as melhores decisões e isso só é possível com a direção daquele que é Eterno.

O que esperar do futuro?

Apocalipse 7: 9 a 17
Em geral, observamos um mundo contemporâneo marcado por seguidas crises econômicas e morais. A principal causa agora é devido à perda de confiança nas instituições financeiras e a destruição das instituições formadoras do senso de coletividade e solidariedade entre as pessoas, a saber: igreja, Estado e família. Estamos envolvidos num grande processo histórico, em que os fatos e eventos que vemos se encadeiam num círculo vicioso, dando sentido catastrófico para humanidade. Estamos inseridos num processo de destruição do ser humano no sentido comunal, e isso pode ser observado em vários fatores. Cada vez mais tendemos a olhar o nosso próprio interesse em detrimento dos interesses coletivos e assim temos nos tornando mais e mais egoístas. Cada vez mais damos mais valor ao dinheiro e as coisas, em função dos sentimentos e das pessoas, nos tornando mais e mais materialistas.

Em particular, observamos um Brasil caracterizado por seguidas crises éticas e políticas. Pois, vivemos em meio a um povo que consagra a desigualdade e a corrupção, combatendo-a o tempo todo no discurso, mas agravando-a em suas práticas e atitudes cotidianas. Então nos tornamos cúmplices das principais mazelas nacionais. E vemos muitos de nossos líderes políticos e religiosos escaparem, como peixe ensaboado da mão do pescador, de acusações de corrupção e má administração comprovadas. Então nos tornamos coniventes ao reelegê-los.

Todo esse processo é histórico e parece não ter fim, se agrava intensamente e a cada dia interfere de forma direta nas nossas relações mais simples e corriqueiras, com amigos, colegas de trabalho, familiares etc. Vão se somando aos nossos dias, desgostos, injúrias, violência, indiferença, desigualdade, pecados. Viver nesse mundo é como se vivêssemos numa grande tribulação (Ap. 7:14). Desse modo, o que esperar do futuro?

Muitas respostas para essa pergunta pode ser encontrada no livro de Apocalipse. Esse livro tem como tema principal o reinado de Deus sobre a história, conta da vitória dos que esperam em Cristo sobre o mundo dominado pela força do maligno. Esse livro se apresenta carregado de imagens e mensagens, em forma de revelação de Deus, para habilitar os cristãos com a visão de centralidade de Deus na história e com a esperança de uma vida melhor no reinado triunfante dEle.

O ponto central é que Satanás e suas ações no mundo serão derrotados e que Deus, através do seu governo, irá cuidar e abençoar aqueles que são seus. Para esse fim Deus separa os seus “remanescentes”, um grupo de pessoas que pelejam nesse mundo e persistem nas práticas de justiça, amor e piedade. Àqueles que em oposição às crises do mundo, se mantém santos, irrepreensíveis, conservando o testemunho verdadeiro e fiel do modo de vida cristão.

Portanto, esses “remanescentes” conservam a esperança de vida, trabalham pela justiça e salvação desse mundo. E esses são os que lavaram as suas vidas no sangue daquele que pode livrar de todo mal. E que por isso tem os seus nomes escritos no livro da vida (Ap.3:5). Então, as tribulações desse mundo irão contrastar com o lugar onde não haverá diferenças entre classes, etnias, nações e línguas, pois o Cristo que se encontra no meio do trono os cuidará e os guiará para as fontes de água da vida (Ap. 7:17a).

Então poderemos esperar alegria para a tristeza, consolo para a dor, certeza para a dúvida, motivação para o cansaço, paz para quem está em guerra e vida eterna para o que se sente limitado.

Saudações Iniciais!!!

Olá, queridos amigos.

Nesse sábado à tarde crio esse blog para compartilhar com todos um pouco das coisas que penso e que sinto sobre a vida, as relações entre as pessoas, o cristianismo, a sociedade e a política.

Grande abraço a todos e sejam bem vindos.