segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mais uma pá de terra na esperança


No último domingo (07/02/10), foi enterrado Alcides do Nascimento Lins, de 22 anos. Junto com ele foi sepultado o sonho de uma família e a esperança de um futuro melhor. Ele se tornou um exemplo de superação para todo o país, ganhando até espaço na mídia nacional por ter conseguido superar todas as barreiras sociais (origem pobre e ensino de escola pública) e entrar no mundo dos brancos (universidades federais). Ele era de origem negra e a sua mãe ganhava a vida juntando lixos e sucatas para vender e, além disso, foi aprovado em 1º lugar no vestibular de Biomedicina da UFPE.

A sua morte chama atenção, porque o caso dele é diferente, anômalo. Era um pássaro fora do ninho, era um negro no meio dos brancos. Mas apesar de ter ingressado no mundo dos brancos, ele ainda era negro, morava com os negros, tinha renda de negros e foi morto por seus parceiros que não tiveram a mesma força para superar todos os desafios vencidos por Alcides. Ele não podia fugir do destino de milhares iguais a ele que tiveram a vida abortada pela violência e pelas condições sociais que os oprimem.

Por que a sociedade brasileira não se comove com milhares de outros amigos de Alcides que morrem da mesma forma todos os dias em favelas e morros? Talvez Alcides seja considerado mais digno, porque conseguiu superar os desafios que os seus colegas de bairro não conseguiram. Talvez Alcides seja mais branco do que eles.

Vão acusar os assassinos de Alcides, como os mais facínoras de todos. Mas antes disso vale à pena refletir sobre a vida que eles tiveram antes de pegar numa arma. Porque “do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem". Bertolt Brecht


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