domingo, 22 de agosto de 2010

Não entendo

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector, (1920 — 1977) escritora, nascida na Ucrânia. Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise.

3 comentários:

  1. Muito bom analisar as obras dela a luz da psicologia, já fiz isso...
    Mas tem um problema...
    às vezes você não entende... hehe
    mas faz parte! =)

    Ps- Você tem um gosto muito bom pra textos! Adoro!

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  2. Ciroquinha já diria: " se fosse burra eu não sofria tanto!" E olha q ela nunca leu o texto ou ouviu o Braão Vermelho cantando isso,rsrs! Na verdade nos ocupamos querendo saber demais, principalmente do que há fora de nós...a principal busca deve ser com o q está dentro. Rob Fu.

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