quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Felicidade como caminho interior

Quando dedicamos algum tempo para nós mesmos, sobre as nossas existências? Em que medida os nossos conhecimentos se traduzem em sabedoria, em um saber-viver, para que nossas vidas possam, enfim, conquistar sentido?

Situamo-nos, portanto, diante de uma pergunta fundamental: Será que devemos aprender a ser felizes? Ora, se isso é possível, não será um aprendizado qualquer. E nem se trata mais de simplesmente esperar a felicidade, mas de construí-la ou de conquistá-la. Se a felicidade é algo que possamos aprender, então não basta seguir receitas. Não há técnicas prontas.

Afinal, você já viveu o sentimento de ter prazer em existir? De pensar que você participa do mistério da vida, e que viver é algo que ocorre de modo plenamente gratuito? Esse sentimento não tem nome, mas pode ser real na sua experiência. E você já parou para escutar o sentimento imenso que ocorre ao nos colocarmos no lugar do outro e percebemos ali que alguém tão semelhante que ele é quase você, sabendo, ao mesmo tempo, que ele é plenamente outro, um outro eu, em proximidade e distância infinita, dotado de uma interioridade única? Seria esta uma visão interior e o sentimento da nossa humanidade? E já lhe ocorreu o sentimento que acompanha saber que cada instante que passa nunca mais retornará? O que torna admirável o tempo, cada segundo, cada dia, e que isso nos situa na urgência de captar a intensidade dos acontecimentos enquanto eles ocorrem e nos faz lembrar do valor de cada pessoa que amamos enquanto estão conosco? E o sentimento de que esse instante, o agora, é sempre algo que não existiu antes, que a existência é algo incessante, desde o início dos tempos? Você já experimentou o sentimento de que tudo, a sua própria vida, está sempre e continuamente começando, e que a vida se faz assim, expectativa? Talvez, em algum momento, possamos também sentir o mistério de todas as coisas, e o mistério de nossas próprias existências, e nos saibamos, assim, pertencendo e participando de algo muito maior, que nos acolhe em seu ser. Esse sentimento profundo do mistério que está na fonte de todas as nossas interrogações, talvez seja também uma resposta. Uma resposta que ajuda a sentir o verdadeiro sentido da vida.

Criar e descobrir sentimentos, talvez exija construir um currículo para nós mesmos, um caminho de aprendizado sobre a existência. Aprender a sentir, a exercitar a sensibilidade, a atingir sentimentos que tornem mais intenso o nosso próprio viver, talvez se torne parte de um caminho para a felicidade. Pois a felicidade cada um só poderá vivê-la em sua interioridade, mesmo diante dos outros,e mesmo que o amor seja um ingrediente especial. Talvez devamos, portanto, também aprender a amar. Aos outros e a nós mesmos. Mas, sendo assim, a felicidade já não estará presente no próprio caminhar?

Sérgio Augusto Sardi - Professor de Filosofia da PUCRS

Um comentário:

  1. Que sublime, Eliéser! Fiquei emocionada agora com esse texto. Foi como uma resposta para meus sentimentos miseráveis de hoje.Entendi que preciso aprender a sentir. Ou então administrar os sentimentos para que não mire somente o umbigo. Que difícil. Obrigada por compartilhar!

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