domingo, 29 de novembro de 2009

COMBATER A POBREZA EM PAÍSES EMERGENTES

Lições do Brasil, China e Índia

Traduzido por Eliéser Ribeiro* da revista The Economist


Na recente Conferência sobre Alimentação em Roma, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestiu um par de luvas de boxe e foi rotulado de "Hunger Free" e acenou para as câmeras. Elas eram seu prêmio - se este é o termo correto, para o sucesso do Brasil na cobertura de uma tabela classificatória elaborada pela ACTION AID, uma organização beneficente britânica, que mediu os países que mais fizeram para reduzir a fome**. A ocasião foi uma atração, é claro, mas tinha um propósito mais sério: que foi o de mostrar que até mesmo os lugares mais pobres podem atenuar a pobreza e a fome. (O Brasil não está nessa categoria, mas o Gana, Vietnã e do Malawi, que ficaram em terceiro, quarto e quinto estão).

A lista da ACTION AID foi inevitavelmente influenciada por uma variedade de coisas que as ONG’s amam: programas de proteção social, garantias legais e constitucionais contra a pobreza e a rejeição do livre mercado. No entanto, uma avaliação mais rigorosa da redução da pobreza no Brasil, China e Índia foi feita por Martin Ravallion, (Diretor de Desenvolvimento do Banco Mundial, Grupo de Investigação***). Ele sugere que a fome não é simplesmente algo que o crescimento econômico poderá cuidar. O diretor mostrou que o desempenho dos grandes países varia muito mais do que o seu crescimento. E ele também diz a respeito do desempenho do Brasil como sendo excepcional.

Entre os países, Brasil, China e Índia, que contém a metade de toda a população pobre do mundo, são os que mais compartilharam as cifras dos que escaparam da pobreza. Em 1981, 84% da população da China estava abaixo da linha de pobreza de U$ 1,25 por dia (em preços de 2005); em 2005 eles compartilharam apenas 16% da quantidade total de pobres. Este valor correspondeu a uma taxa proporcional de 6,6% anuais na redução da pobreza, a diferença entre as taxas de crescimento do número de pobres e da população total.

Ninguém fez tanto quanto a China. A proporção daqueles em situação de pobreza no Brasil caiu pela metade de 17% para 8%, uma redução anual de 3,2%. A Índia, em comparação aos três países foi a que teve menores mudanças, mas ainda sim foi muito bem, cortando a parte de baixo da linha de pobreza de 60% para 42% entre 1981 e 2005. Isto implica uma redução anual de 1,5% ao ano, embora haja problemas com as estatísticas da Índia; utilizando diferentes valores de consumo gera uma redução anual de 3%, comparável ao do Brasil.

Como observou o Sr. Ravallion, estes números não espelham as taxas de crescimento. O Brasil reduziu a pobreza, mais do que a Índia, apesar do crescimento muito menor, pouco mais de 1% ao ano em 1993-2005, em comparação com 5% da Índia. Se você calcular a taxa de redução da pobreza para cada unidade de crescimento do PIB por pessoa, o Brasil foi ainda melhor do que a China: a proporção é de 4,3 para o Brasil, 0,8 e 0,4 para a China e para a Índia (0,8 se você usar os valores do consumo ajustado). Por unidade de crescimento, o Brasil reduziu sua taxa de pobreza proporcionalmente cinco vezes mais do que a China ou a Índia.

Mas como fazer essa redução ser tão grande? A principal explicação tem a ver com a redução da desigualdade. Esta (medida pelo índice de GINI) caiu acentuadamente no Brasil desde 1993, enquanto se elevou na China e aumentou consideravelmente na Índia. A grande desigualdade atenua o efeito do crescimento na redução da pobreza.

As políticas de governo desempenharam um grande papel na redução da desigualdade. O principal programa de transferência no Brasil, chamado Bolsa Família, oferece ajuda a 11 milhões de famílias, ou 60% de todos aqueles do décimo mais pobre da população. Em contraste, a segurança social na China ainda é fornecida em grande parte através do sistema empresarial (ou seja, das companhias), de modo que tende a ignorar quem não tem trabalho. E intervenções governamentais na Índia são extremamente cruéis e injustas. As pessoas no quinto mais pobre são as menos propensas a ter qualquer tipo de cartão social (a chave para a assistência pública), enquanto o quinto mais rico são os mais prováveis.

O Diretor Ravallion conclui com algumas lições úteis. Em todos os três países, a estabilidade econômica fez uma grande diferença para melhorar os índices de pobreza. A China foi a que mais reduziu a pobreza, mas fez melhor no início, quando a agricultura teve um crescimento mais rápido. Como o crescimento deslocou para as cidades e a fabricação, a desigualdade aumentou. Eles poderiam ter feito ainda melhor com o estilo "progressivo" das políticas brasileiras. A Índia teve tanto crescimento quanto políticas sociais, ainda não fizeram melhor porque as suas políticas de fato pouco ajudaram aos mais pobres. Com seu sistema de castas e o péssimo estado das escolas, a Índia pode ser uma sociedade mais desigual do que os números sugerem. Ambos os países asiáticos poderiam aprender algumas lições com o Brasil. Mas o Brasil, por sua vez, não será capaz de igualar o recorde da China em reduzir o número de pessoas pobres, sem um maior crescimento.

* Responsabilizo por qualquer problema ou erro na tradução. Tendo dúvidas confira o artigo original em:
http://www.economist.com/world/international/displayStory.cfm?story_id=14979330&source=hptextfeature

** “Who’s really fighting hunger?” www.actionaid.org

*** A comparative perspective on poverty reduction in Brazil, China and India”. By Martin Ravallion. Policy Research Working Paper 5080. econ.worldbank.org.

Um comentário:

  1. Irmão....a sua inteligência não tem fim, sua dedicação mais ainda.Acredito no seu potencial, garra e determinação, acredito muito nisso.Essa é uma maneira de mostrar e compartilhar isso com as pessoas que acreditam no mesmo que eu,em você. Que Deus te abençõe ricamente nesta nova jornada.Parabens!!!

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