Lições do Brasil, China e Índia
Traduzido por Eliéser Ribeiro* da revista The Economist
Na recente Conferência sobre Alimentação em Roma, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestiu um par de luvas de boxe e foi rotulado de "Hunger Free" e acenou para as câmeras. Elas eram seu prêmio - se este é o termo correto, para o sucesso do Brasil na cobertura de uma tabela classificatória elaborada pela ACTION AID, uma organização beneficente britânica, que mediu os países que mais fizeram para reduzir a fome**. A ocasião foi uma atração, é claro, mas tinha um propósito mais sério: que foi o de mostrar que até mesmo os lugares mais pobres podem atenuar a pobreza e a fome. (O Brasil não está nessa categoria, mas o Gana, Vietnã e do Malawi, que ficaram em terceiro, quarto e quinto estão).
A lista da ACTION AID foi inevitavelmente influenciada por uma variedade de coisas que as ONG’s amam: programas de proteção social, garantias legais e constitucionais contra a pobreza e a rejeição do livre mercado. No entanto, uma avaliação mais rigorosa da redução da pobreza no Brasil, China e Índia foi feita por Martin Ravallion, (Diretor de Desenvolvimento do Banco Mundial, Grupo de Investigação***). Ele sugere que a fome não é simplesmente algo que o crescimento econômico poderá cuidar. O diretor mostrou que o desempenho dos grandes países varia muito mais do que o seu crescimento. E ele também diz a respeito do desempenho do Brasil como sendo excepcional.
Entre os países, Brasil, China e Índia, que contém a metade de toda a população pobre do mundo, são os que mais compartilharam as cifras dos que escaparam da pobreza. Em 1981, 84% da população da China estava abaixo da linha de pobreza de U$ 1,25 por dia (em preços de 2005); em 2005 eles compartilharam apenas 16% da quantidade total de pobres. Este valor correspondeu a uma taxa proporcional de 6,6% anuais na redução da pobreza, a diferença entre as taxas de crescimento do número de pobres e da população total.
Ninguém fez tanto quanto a China. A proporção daqueles em situação de pobreza no Brasil caiu pela metade de 17% para 8%, uma redução anual de 3,2%. A Índia, em comparação aos três países foi a que teve menores mudanças, mas ainda sim foi muito bem, cortando a parte de baixo da linha de pobreza de 60% para 42% entre 1981 e 2005. Isto implica uma redução anual de 1,5% ao ano, embora haja problemas com as estatísticas da Índia; utilizando diferentes valores de consumo gera uma redução anual de 3%, comparável ao do Brasil.
Como observou o Sr. Ravallion, estes números não espelham as taxas de crescimento. O Brasil reduziu a pobreza, mais do que a Índia, apesar do crescimento muito menor, pouco mais de 1% ao ano em 1993-2005, em comparação com 5% da Índia. Se você calcular a taxa de redução da pobreza para cada unidade de crescimento do PIB por pessoa, o Brasil foi ainda melhor do que a China: a proporção é de 4,3 para o Brasil, 0,8 e 0,4 para a China e para a Índia (0,8 se você usar os valores do consumo ajustado). Por unidade de crescimento, o Brasil reduziu sua taxa de pobreza proporcionalmente cinco vezes mais do que a China ou a Índia.
Mas como fazer essa redução ser tão grande? A principal explicação tem a ver com a redução da desigualdade. Esta (medida pelo índice de GINI) caiu acentuadamente no Brasil desde 1993, enquanto se elevou na China e aumentou consideravelmente na Índia. A grande desigualdade atenua o efeito do crescimento na redução da pobreza.
As políticas de governo desempenharam um grande papel na redução da desigualdade. O principal programa de transferência no Brasil, chamado Bolsa Família, oferece ajuda a 11 milhões de famílias, ou 60% de todos aqueles do décimo mais pobre da população. Em contraste, a segurança social na China ainda é fornecida em grande parte através do sistema empresarial (ou seja, das companhias), de modo que tende a ignorar quem não tem trabalho. E intervenções governamentais na Índia são extremamente cruéis e injustas. As pessoas no quinto mais pobre são as menos propensas a ter qualquer tipo de cartão social (a chave para a assistência pública), enquanto o quinto mais rico são os mais prováveis.
O Diretor Ravallion conclui com algumas lições úteis. Em todos os três países, a estabilidade econômica fez uma grande diferença para melhorar os índices de pobreza. A China foi a que mais reduziu a pobreza, mas fez melhor no início, quando a agricultura teve um crescimento mais rápido. Como o crescimento deslocou para as cidades e a fabricação, a desigualdade aumentou. Eles poderiam ter feito ainda melhor com o estilo "progressivo" das políticas brasileiras. A Índia teve tanto crescimento quanto políticas sociais, ainda não fizeram melhor porque as suas políticas de fato pouco ajudaram aos mais pobres. Com seu sistema de castas e o péssimo estado das escolas, a Índia pode ser uma sociedade mais desigual do que os números sugerem. Ambos os países asiáticos poderiam aprender algumas lições com o Brasil. Mas o Brasil, por sua vez, não será capaz de igualar o recorde da China em reduzir o número de pessoas pobres, sem um maior crescimento.
* Responsabilizo por qualquer problema ou erro na tradução. Tendo dúvidas confira o artigo original em:
http://www.economist.com/world/international/displayStory.cfm?story_id=14979330&source=hptextfeature
** “Who’s really fighting hunger?” www.actionaid.org
*** A comparative perspective on poverty reduction in Brazil, China and India”. By Martin Ravallion. Policy Research Working Paper 5080. econ.worldbank.org.
Traduzido por Eliéser Ribeiro* da revista The Economist
Na recente Conferência sobre Alimentação em Roma, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestiu um par de luvas de boxe e foi rotulado de "Hunger Free" e acenou para as câmeras. Elas eram seu prêmio - se este é o termo correto, para o sucesso do Brasil na cobertura de uma tabela classificatória elaborada pela ACTION AID, uma organização beneficente britânica, que mediu os países que mais fizeram para reduzir a fome**. A ocasião foi uma atração, é claro, mas tinha um propósito mais sério: que foi o de mostrar que até mesmo os lugares mais pobres podem atenuar a pobreza e a fome. (O Brasil não está nessa categoria, mas o Gana, Vietnã e do Malawi, que ficaram em terceiro, quarto e quinto estão).
A lista da ACTION AID foi inevitavelmente influenciada por uma variedade de coisas que as ONG’s amam: programas de proteção social, garantias legais e constitucionais contra a pobreza e a rejeição do livre mercado. No entanto, uma avaliação mais rigorosa da redução da pobreza no Brasil, China e Índia foi feita por Martin Ravallion, (Diretor de Desenvolvimento do Banco Mundial, Grupo de Investigação***). Ele sugere que a fome não é simplesmente algo que o crescimento econômico poderá cuidar. O diretor mostrou que o desempenho dos grandes países varia muito mais do que o seu crescimento. E ele também diz a respeito do desempenho do Brasil como sendo excepcional.
Entre os países, Brasil, China e Índia, que contém a metade de toda a população pobre do mundo, são os que mais compartilharam as cifras dos que escaparam da pobreza. Em 1981, 84% da população da China estava abaixo da linha de pobreza de U$ 1,25 por dia (em preços de 2005); em 2005 eles compartilharam apenas 16% da quantidade total de pobres. Este valor correspondeu a uma taxa proporcional de 6,6% anuais na redução da pobreza, a diferença entre as taxas de crescimento do número de pobres e da população total.
Ninguém fez tanto quanto a China. A proporção daqueles em situação de pobreza no Brasil caiu pela metade de 17% para 8%, uma redução anual de 3,2%. A Índia, em comparação aos três países foi a que teve menores mudanças, mas ainda sim foi muito bem, cortando a parte de baixo da linha de pobreza de 60% para 42% entre 1981 e 2005. Isto implica uma redução anual de 1,5% ao ano, embora haja problemas com as estatísticas da Índia; utilizando diferentes valores de consumo gera uma redução anual de 3%, comparável ao do Brasil.
Como observou o Sr. Ravallion, estes números não espelham as taxas de crescimento. O Brasil reduziu a pobreza, mais do que a Índia, apesar do crescimento muito menor, pouco mais de 1% ao ano em 1993-2005, em comparação com 5% da Índia. Se você calcular a taxa de redução da pobreza para cada unidade de crescimento do PIB por pessoa, o Brasil foi ainda melhor do que a China: a proporção é de 4,3 para o Brasil, 0,8 e 0,4 para a China e para a Índia (0,8 se você usar os valores do consumo ajustado). Por unidade de crescimento, o Brasil reduziu sua taxa de pobreza proporcionalmente cinco vezes mais do que a China ou a Índia.
Mas como fazer essa redução ser tão grande? A principal explicação tem a ver com a redução da desigualdade. Esta (medida pelo índice de GINI) caiu acentuadamente no Brasil desde 1993, enquanto se elevou na China e aumentou consideravelmente na Índia. A grande desigualdade atenua o efeito do crescimento na redução da pobreza.
As políticas de governo desempenharam um grande papel na redução da desigualdade. O principal programa de transferência no Brasil, chamado Bolsa Família, oferece ajuda a 11 milhões de famílias, ou 60% de todos aqueles do décimo mais pobre da população. Em contraste, a segurança social na China ainda é fornecida em grande parte através do sistema empresarial (ou seja, das companhias), de modo que tende a ignorar quem não tem trabalho. E intervenções governamentais na Índia são extremamente cruéis e injustas. As pessoas no quinto mais pobre são as menos propensas a ter qualquer tipo de cartão social (a chave para a assistência pública), enquanto o quinto mais rico são os mais prováveis.
O Diretor Ravallion conclui com algumas lições úteis. Em todos os três países, a estabilidade econômica fez uma grande diferença para melhorar os índices de pobreza. A China foi a que mais reduziu a pobreza, mas fez melhor no início, quando a agricultura teve um crescimento mais rápido. Como o crescimento deslocou para as cidades e a fabricação, a desigualdade aumentou. Eles poderiam ter feito ainda melhor com o estilo "progressivo" das políticas brasileiras. A Índia teve tanto crescimento quanto políticas sociais, ainda não fizeram melhor porque as suas políticas de fato pouco ajudaram aos mais pobres. Com seu sistema de castas e o péssimo estado das escolas, a Índia pode ser uma sociedade mais desigual do que os números sugerem. Ambos os países asiáticos poderiam aprender algumas lições com o Brasil. Mas o Brasil, por sua vez, não será capaz de igualar o recorde da China em reduzir o número de pessoas pobres, sem um maior crescimento.
* Responsabilizo por qualquer problema ou erro na tradução. Tendo dúvidas confira o artigo original em:
http://www.economist.com/world/international/displayStory.cfm?story_id=14979330&source=hptextfeature
** “Who’s really fighting hunger?” www.actionaid.org
*** A comparative perspective on poverty reduction in Brazil, China and India”. By Martin Ravallion. Policy Research Working Paper 5080. econ.worldbank.org.
Irmão....a sua inteligência não tem fim, sua dedicação mais ainda.Acredito no seu potencial, garra e determinação, acredito muito nisso.Essa é uma maneira de mostrar e compartilhar isso com as pessoas que acreditam no mesmo que eu,em você. Que Deus te abençõe ricamente nesta nova jornada.Parabens!!!
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