Mas gostaria de voltar um pouco no tempo, e lembrar quando cheguei aqui na capital vindo da minha cidade natal no interior de Minas. Foi no dia de 11 de março de 2002, quando vim de carona com um amigo. Além da carona ganhei a indicação para conseguir um trabalho. A irmã do motorista tinha um elegante estabelecimento de festas na orla da lagoa da Pampulha.
Ao chegar ao estabelecimento no dia 15 de março conversei um logo tempo com o casal proprietário e me apresentaram todas as repartições da casa, todas as dependências do salão de festas, todos os jardins, muros e etc. Meu primeiro trabalho em Belo Horizonte seria faxineiro durante os dias da semana e segurança de festa nos finais de semana; estava contratado.
Naquele lugar me acomodei num quartinho, que cabia inconveniente uma cama, um cabideiro para roupas e uma pequena televisão de 4,5 polegadas que se sustentava em cima de uma máquina de costura que também deveria dividir comigo aquele espaço e também mais duas caixas de papelão.
Acertada a minha contratação, liguei para minha mãe, orgulhoso pelo êxito, e pedi para que ela me mandasse “tudo o que eu tinha”. Uma semana depois o amigo da carona trouxe de Manhuaçu “tudo o que eu tinha”. E esse tudo cabia apenas em duas caixas de papelão. Naquele momento fui afetado por uma tristeza tão grande em observar que durante os meus 20 anos decorridos “tudo o que eu tinha” cabia em duas caixas de papelão, naquele instante chorei compulsivamente. E o choro ganhou tons de soluços quando abri uma das caixas e dentro tinha uma carinhosa carta da minha mãe, me motivando e dizendo que me amava muito e acreditava em mim.
Decorrido sete anos desse episódio, hoje arrumo novamente a mudança em caixas de papelão, que até agora contabilizaram 18 unidades. Muitas delas com roupas, outras tantas (em grande número) com livros e duas delas com lembranças (vou refletir sobre lembranças em outro post). E durante esse tempo eu aprendi que o mais importante não são as coisas que você tem, representada, nesse caso, pelo conteúdo das caixas, nem a quantidade delas. Mas sim, os amigos que se têm, os sentimentos vividos, as histórias acumuladas, os caminhos percorridos e a plena alegria de viver tendo a esperança sempre de que o amanhã será sempre melhor.
E a mesma mulher que despedia com saudades o seu rebento a sete anos atrás, hoje aguarda ansiosa a volta do seu filho dileto.
Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida. Provérbios 4:23